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Inovação social e sustentabilidade: pesquisa internacional destaca o papel de comunidades tradicionais no Brasil para a restauração ecológica em múltiplas escalas.

O artigo coproduzido pela professora do Departamento de Economia Rural, Maria Alice Fernandes Correa Mendonça, foi publicado na Revista People and Nature da British Ecological Society no mês de setembro.

A pesquisa destaca o protagonismo das inovações sociais promovidas por comunidades tradicionais voltadas para a restauração ecológica no Brasil, em um mundo cada vez mais impactado pelas mudanças climáticas, perda de biodiversidade e desigualdade econômica. Destaca-se a experiência das Redes de Coletores de Sementes Nativas, que além de proverem sementes para a restauração de ecossistemas degradados, tem promovido uma economia baseada na sociobiodiversidade.

As Redes de Coletores de Sementes Nativas brasileiras não são apenas sobre a coleta de sementes; elas representam uma economia emergente e um modelo de desenvolvimento sustentável profundamente enraizado nas estratégias de colaboração entre diversos atores sociais em múltiplas escalas de ação. Entre 2018 e 2021, essas redes receberam US$ 12 milhões em investimentos, que resultaram na produção de 180 toneladas de sementes nativas e geraram US$ 1,01 milhão em renda para 997 coletores. O impacto socioeconômico é notável: 55% dos coletores são mulheres e 46% pertencem a comunidades tradicionais, como indígenas e quilombolas, que frequentemente enfrentam marginalização social e econômica.

O artigo “Native seed collector networks in Brazil: Sowing social innovations for transformative change” recentemente publicado na revista People and Nature (British Ecology Society) é resultado de um esforço transdisciplinar entre entre pesquisadores das Universidades de Padova (Itália), Sunshine Coast (Austrália),  de São Paulo (USP, Brasil), Federal de Viçosa (UFV, Brasil) e Federal de São Carlos (UFSCAR, Brasil), técnicos do Instituto SocioAmbiental (ISA) e do Agroícone e líderes de diversas redes de coletores de sementes nativas do Brasil. Investigamos se e como as SIs (inovações sociais) em NSCNs (Redes de Coletores de Sementes) empoderam comunidades tradicionais e grupos marginalizados, no âmbito da restauração ecológica.

Exploramos nove Redes de Coletores de Sementes Nativas brasileiras e aplicamos a Análise de Redes Sociais (SNA) à quatro delas para entender a estrutura organizacional. Para compreender melhor o papel dos SIs nessas Redes, nos aprofundamos nos contextos, motivações, atores locais envolvidos, caminhos para expansão e impactos associados de cinco casos de SI através das lentes da estrutura Social Innovative—Forest and Landscape Restoration (SI-FLR) (Padovezi, Secco et al., 2022). Com base nos resultados obtidos, teorizamos sobre uma cadeia de eventos conectando Redes e SI (inovação social) e sua contribuição potencial para transformações ecológicas e sociais profundas. O estudo revela que as Redes promovem inovações sociais, onde práticas tradicionais são combinadas com novos modelos de negócios e governança, criando soluções que respondem às necessidades locais.

Como principais resultados, destacamos cinco casos de SIs (inovação social), os quais surgiram em contextos relacionados a disputas de retomada de terras, desastres naturais e projetos de conservação da biodiversidade. Comunidades tradicionais, trabalhadores rurais, que atuam principalmente como coletores de sementes, são os principais atores locais dessas Redes. As motivações o envolvimento com as Redes estão relacionadas à necessidade social de manter sua identidade cultural, acessar serviços públicos e gerar renda. Os caminhos para escalar esses SIs envolvem líderes locais identificando e buscando janelas de oportunidade, principalmente relacionadas a demandas locais de restauração e subsídios filantrópicos; parcerias colaborativas valorizando o conhecimento ecológico local; inovações técnicas; e promoção contínua do aprendizado social (ou seja, processos reflexivos, treinamento e experimentação). Os principais impactos relatados nesses SIs foram geração de renda, fortalecimento da identidade cultural local, redução de conflitos rurais e aumento do capital social, observados por meio do maior envolvimento dos moradores locais na governança da paisagem

Um dos aspectos mais fascinantes revelados pelo estudo é o conceito de “escalas de impacto” das Sis (inovações sociais). As Redes demonstraram sua capacidade de “scaling deep“, mudando valores e empoderando de agentes locais; “scaling out“, inspirando outras comunidades a replicarem essas inovações; e “scaling up“, influenciando políticas públicas que favorecem a restauração de paisagens de maneira inclusiva.

Essa abordagem tripla mostra o poder catalisador das SIs dentro das Redes de Sementes e sua capacidade de promover mudanças sistêmicas. Concluimos que as Redes de Coletores de Sementes no Brasil não são apenas uma solução para a restauração ecológica, mas também um modelo de como as comunidades podem se organizar para enfrentar desafios globais, promovendo sustentabilidade e justiça social.

O futuro da restauração ecológica no Brasil, e potencialmente em outras partes do mundo, depende da capacidade de unir inovação social, governança inclusiva e práticas tradicionais. As Redes de Coletores de Sementes Nativas são um exemplo poderoso de como isso pode ser feito, transformando comunidades locais em protagonistas de uma mudança global.

Publicação: Native seed collector networks in Brazil: Sowing social innovations for transformative change
Journal: People and Nature (British Ecology Society)
link: http://doi.org/10.1002/pan3.10692 (OPEN ACCESS)
Data publicação: 02.09.2024


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